quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A polêmica sobre os 60 anos do trio elétrico

No ano em que oficialmente se comemora os 60 anos do trio elétrico, uma velha polêmica volta à cena: o ano de surgimento da fobica, que é a mãe de todos os trios, foi 1951, portanto o correto seria fazer a homenagem no ano que vem.

Ao participar do seminário Chame gente, que a TARDE promoveu para debater o carnaval, Moraes Moreira explicou a questão. Segundo ele, a polêmica é fruto da arrogância dos acadêmicos.

Moreira confirmou que o grupo de frevo Vassourinhas, que serviu de inspiração para Dodô e Osmar, efetivamente passou por Salvador, em 1951. Mas que Osmar Macedo, antes do surgimento da palavra marketing, já era um marqueteiro. Ele, segundo o cantor e compositor, decidiu que gostaria de comemorar os 50 anos do trio no ano 2000. Infelizmente, morreu três anos antes.

Por fim, Moraes Moreira conclui: "Não sei porque tanta polêmica por causa de um mês. O Vassourinha passou por aqui em janeiro de 1951"

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Administração de crise no Banana Reggae

Os blocos de reggae têm dificuldades de fechar suas contas. Entre o que planejam para o Carnaval e o que conseguem arrecadar há uma longa distância. O Banana Reggae, primeiro bloco do bairro de Pernambués, fundado em janeiro de 1995, tinha um projeto audacioso para os três dias de desfile nos circuitos do Pelourinho, Campo Grande e Barra.

Pretendia apresentar atrações como Tribo de Jah, Édson Gomes e Diamba. Os três custariam R$ 90 mil – preço abaixo do cachê habitual, segundo o presidente da entidade Milton Souza dos Santos.

O Banana também tinha a intenção de distribuir 3 mil abadás, gratuitamente, para a comunidade do bairro (custo de R$ 18 mil), que brincariam entre cordas e cordeiros ( despesa de R$ 7 mil), ao som de um trio elétrico razoável (aluguel de R$ 15 mil por dia). Somando esses gastos, com taxas e outras despesas, o Carnaval custaria R$ 220 mil.

No entanto, por falta de patrocínio – o bloco só obteve R$ 35 mil do Programa Ouro Negro, do governo estadual -, Milton recuou. Desistiu de desfilar no Pelô, encomendou um terço dos abadas previstos e desistiu dos principais nomes do reggae, mantendo apenas a os tradicionais cantores do Banana, Tomé Viana e Banda Raga, além dos convidados como Dianorina e João Guito.

Mesmo com planos menos ousados, Milton está correndo atrás de patrocinadores.

- Temos muitas dificuldades. Esse ano, a Sucom queria cobrar de nós uma série de taxas, mas batemos pé firme e eles desistiram das taxas que queriam inventar para os blocos de utilidade pública, sem fins lucrativos. Quanto aos patrocinadores, eles têm uma visão deturpada. Só pensam em investir em Ivete, Chiclete, Claudia Leitte. Não têm preocupação com as comunidades, onde seus produtos são consumidos – diz, revoltado.

O mercado dos trios elétricos

Trios turbinados de blocos dos grandes nomes do carnaval baiano (Chiclete, Ivete, etc) - R$ 1,7 milhão.

Aluguel de trio com bom som, feito por empresas paulistas, para 5 dias de folia - R$ 200 mil a R$ 250 mil

Diária de trio com som razoável para pequenas e médias agremiações - R$ 15 mil

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Prefeitura veta projeto Esquina do Samba

O sambista Alaor Macedo recebeu, hoje à tarde, ofício da Saltur (Empresa Baiana de Turismo), vetando a instalação da Esquina do Samba, no Farol da Barra (clique no documento para vê-lo em tamanho integral). A proposta de um point de encontro para sambistas no coração do axé musica já contava com o patrocínio da Nova Schin, cervejaria que banca parte do Carnaval soteropolitano.

A Esquina seria montada em torno do prédio onde Alaor mora, entre a rua Afonso Celso e Avenida Sete de Setembro. Segundo o sambista, seria uma forma de organizar a venda de alimentos e gerar renda para comunidades das antigas escolas de samba de Salvador.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Coisa de bamba

Alaor Macedo merece ser tema de um samba-enredo igual aos que ele compôs para escolas de samba de Salvador (Filhos da Liberdade e Diplomatas de Amaralina) e do Rio de Janeiro (Unidos da Tijuca, Alegria de Copacabana e Salgueiro), entre 1962 e 1991. A primeira estrofe, contaria as origens do filho do ator Lídio Silva, que ganhou notoriedade nos filmes de Glauber Rocha, e da pianista Ondina Macedo. Resumiria as brincadeiras de criança no Fuísco de Cima, no Barbalho, os primeiros passos como marceneiro aos 8 anos e falaria das relações de parentesco com Mestre Didi, primo de seu pai, e Mãe Senhora, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá e uma das mães de santo mais importantes do Brasil.

O enredo prosseguiria mostrando seu contato com o samba, as primeiras composições, os dotes musicais e a maior aventura: a decisão de ir para o Rio de Janeiro para tentar a vida como cantor. Esquentaria com as histórias de bastidores envolvendo banqueiros de jogo de bicho, disputas acirradas – às vezes definida pelo poder das armas – em concursos de samba e a ida para os Estados Unidos, onde Alaor se casou e fundou a The Big Family, escola de samba que reunia os brasileiros, em Washington.
Na última parte, a fundação da Lira Imperial do Samba, a laranja verde e branco de Nazaré, e a epopeia de ressuscitar os desfiles das escolas de samba de Salvador, iniciativa que arranca de entusiasmados elogios a votos de desconfiança. Mas como letra de samba é para quem sabe, vamos contar essa história em texto jornalístico.

A única escola de samba em atividade em Salvador foi fundada no dia 29 de março de 2006. As cores saíram da cabeça do seu criador, sem nenhuma justificativa, mas inconscientemente retratam a Diplomatas de Amaralina (laranja) e a Império Serrano (verde e branco), que batizará a agremiação. O símbolo também tem uma junção de elementos tradicionais – a coroa e o surdo –, com um detalhe para não deixar dúvida de sua baianidade: o Elevador Lacerda, incluído no logo por Lucas Batatinha, filho do cantor e compositor Batatinha.

O que torna a escola peculiar é que desde a sua fundação foram feitas cinco apresentações, nenhuma delas durante o Carnaval. Também surpreende o fato da sede, uma bela casa de 408 metros quadrados, dois andares, sete salas e dois salões, ficar em uma rua (a Limoeiro, em Nazaré) repleta de hospitais e clínicas, o que impede a realização de ensaios e eventos barulhentos. É dessa trincheira que Alaor batalha para concretizar seus projetos para revitalizar o desfile das escolas de sambas baianas.

Dali, articulou a gravação do CD “Abram Alas pro Samba”, reunindo ex-compositores de antigas escolas baianas e jovens talentos. A princípio, foram prensadas cópias promocionais, mas o objetivo é que o disco comece a ser vendido em larga escala três meses antes do Carnaval, seguindo o exemplo do que é feito no Rio de Janeiro.
Outra conquista do paciente e perseverante Alaor Macedo é a criação da “Esquina do Samba“ num reduto dominado pelos trios elétricos e o axé music. O projeto consiste na instalação de barracas nas cores da Juventude do Garcia, Calouros da Barra, Filhos do Tororó, dentre outras, em torno do prédio em que Alaor mora e é síndico, na confluência da Avenida Sete e a rua Afonso Celso, no Farol da Barra. Foi desenvolvido pelo próprio compositor que aprendeu a operar o programa AutoCAD, usado por arquitetos, a fim de criar um ponto de encontro para sambistas e uma fonte de renda – o comércio de alimentos e bebidas – para as comunidades das antigas escolas. Com o patrocínio de uma cervejaria, começa a funcionar na folia deste ano.

Convicto que é preciso “começar pela a estrutura e não pelo batuque”, o ex-marceneiro sonha um sambódromo, no Comércio; um centro de documentação e oficinas de formação de artistas plásticos, compositores e músicos, principalmente tocadores de cuíca, tamborins e frigideiras, que, segundo ele, entraram em processo de extinção com o fim das escolas. Tudo isso bancado pela iniciativa privada: “Estou cansado de ouvir as pessoas dizerem vamos tirar um dinheiro do Estado para fazer as escolas desfilarem. Ora, os governos têm que gastar dinheiro com outras prioridades: saúde, educação e segurança”, repete Alaor, confiante em sua experiência na “The Big Family, que conseguia financiar seus próprios desfiles.

Por suas ações e declarações, Alaor se transformou em um “mito” para o secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles. “A proposta dele é genial. Ele é um cara inspirado, instigador. Se qualificou como gestor cultural e defende o retorno das escolas, o que precisa acontecer. Vi uma apresentação da Lira do Samba, na Praça Municipal, e foi deslumbrante. Estamos dispostos a criar um programa para apoiar a iniciativa, se houver demanda da sociedade”, exalta Meirelles.

A construção do mito - No tempo em que as escolas desfilavam entre o Campo Grande e a Praça da Sé, onde passavam por um palanque para serem avaliadas por jurados, Alaor, aos 20 anos (1968), fez sua estreia como compositor dos Diplomatas de Amaralina e ficou em segundo lugar com o samba-enredo “Descobrimento do Brasil”.

- Naquela época era muito difícil alguém de fora da comunidade vencer a competição. Fiquei com os Diplomatas até 1972. Era muito respeitado, mas não ganhava nada. Foi aí que surgiu o convite para ser intérprete do samba da Juventude do Garcia, ao lado de Roque Fumaça e Salvador Oliveira. A Juventude já tinha vencido três campeonatos consecutivos e lutava pelo quarto. Resolvi me mudar – recorda.

Logo depois, diante da decadência das escolas – o último e melancólico desfile ocorreu em 1976 e foi definido pelo sambista Nelson Rufino como “degradante” – Alaor Macedo voltou para as artes da marcenaria e manteve o lado artístico, cantando em clubes como a Associação Atlética, Português, Yatch e Espanhol. Pouco para quem queria ganhar o mundo.

Em 1979, numa sexta-feira chuvosa, o ousado baiano desceu na rodoviária do Rio de Janeiro com um saco às costas, contendo poucas roupas, um colete para usar em futuras apresentações e um berimbau. Os bolsos estavam vazios. Sem saber o que fazer, pegou um ônibus. Na primeira oportunidade desceu pela porta dos fundos, sem pagar, no Rio Comprido, bairro entre a Tijuca e o Estácio, bem próximo do local onde surgiu, em 1928, a primeira escola de samba do Rio, a Deixa Falar.

A sorte sorriu para Alaor 24 horas depois de conseguir alugar um quarto na Avenida Paulo de Frontin, com a promessa de efetuar o pagamento em três dias. Ao conversar com a dona da pensão e se identificar como cantor, foi aconselhado a ir ao clube Minerva (hoje Helênico), onde costumavam se apresentar Beth Carvalho, Jovelina Pérola Negra e Martinho da Vila. Lá, rejeitou a paquera de uma mulher que não considerou atraente, mas mudou de ideia quando ela subiu no palco e soltou a voz: era a cantora Mariúza, nome artístico de Marilza da Conceição Aparecida, que faria carreira na Europa. Foi ela quem apresentou o futuro presidente da Lira do Samba a Pepe, dono do clube, que o contratou no mesmo dia.

A primeira tentativa de voltar a compor para escolas de samba ocorreu em 1980, na Unidos da Tijuca, que tinha o enredo sobre o industrial Delmiro Gouveia. Mais uma vez, Alaor foi vice. “A disputa foi muito acirrada, os sambas voltaram ao palco três vezes para o desempate. E foi decidido no revólver. Deram a vitória para Adriano Adauto e o pessoal do morro do Borel”, lastima, mesmo sabendo que naquele ano a Tijuca foi campeã do segundo grupo e voltou à elite.

Experiências envolvendo brigas, banqueiros de jogo do bicho e jogadas de marketing na disputa de sambas-enredos passaram a ser rotina na vida de Alaor. Ao mesmo tempo as premiações pelas conquistas subiam – hoje, segundo ele, chegam a R$ 300 mil para cada compositor.

Em 1987, depois de ter trabalhado como marceneiro do Hotel Meridien, onde também fez shows ao lado do apresentador Miele, o já experiente compositor foi redescoberto pelos integrantes da Alegria de Copacabana, escola fincada entre os morros do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, quando fazia a leitura da homilia numa cerimônia na Igreja da Ressureição.

Com o samba-enredo Palmarizando, a vitória era certa. Alaor Macedo chegou a ser informado pelo presidente da agremiação que seria o campeão uma semana antes da decisão. Não contava, porém, com a estrepolia de seu parceiro Bolão, com quem dividiu a composição, após aprender a duras penas que sozinho e sem pertencer à comunidade perderia de novo.

Quando se apresentava na finalíssima, Alaor foi retirado do palco após cantar o primeiro verso – “Cheguei na força de Zambi”. Levado à presença do traficante Tonzé, foi informado que Bolão tinha vacilara ao arrombar um carro diante da quadra de ensaio. O veículo pertencia ao banqueiro de jogo de bicho Waldemir Paes Garcia, o Maninho, patrocinador da escola. Bolão levou uma surra e só não foi morto porque era querido pela comunidade. E Alaor, diante de um homem de confiança de Maninho, ouviu que como não tinha nada a ver com a história, poderia continuar freqüentando a Alegria de Copacabana.

- Eu só queria era sair de lá. Disse que voltaria, mas não apareci mais. Também ignorei o convite para ir ao Salgueiro – rememora.
Meses depois, num encontro fortuito na Zona Sul, Arizão, homem ligado a Maninho, levou Alaor para ver pela primeira vez o ensaio da vermelho e branco. Era o início de uma parceria vitoriosa. Os dois ganhariam por três anos consecutivos a disputa de samba-enredo do Salgueiro.

Em 1988, a primeira vitória veio com Em busca do ouro, mas não foi fácil. O grupo derrotado decretou guerra, literalmente, chegando a marcar um duelo com pistolas. Alaor não compareceu para o tiroteio. A solução encontrada pela diretoria para apaziguar a situação, foi fundir as letras e dividir o prêmio entre nove compositores.

- A composição é quase toda minha. Do samba de Mauro Torrão ficou apenas o refrão “Banto / D'angolo / Crioulo, muito axé / Eis o milagre do café” – revela.
Por não ter ido disputar o samba à bala, Alaor foi considerado frouxo pelo violento Maninho, que morreria assassinado com seis tiros de fuzil, numa emboscada, em 2008. Por outro lado, ganhou a simpatia de outros componentes da escola, fundamental nas vitórias seguintes. Seu Airton, por exemplo, era o responsável pela distribuição dos convites para os compositores distribuírem entre amigos. A cota era de 50 ingressos para cada participante, mas o baiano levava mais do que o dobro, o que lhe permitia arregimentar torcedores extras na Baixada Fluminense.

- Estava claro que o clima da quadra era um dos quesitos mais importantes para definir os finalistas. Convocávamos a torcida, mandávamos imprimir folhetos para todos decorarem o samba e os esperávamos na entrada da sede do Salgueiro com cafezinho e cachaça. Também mandei fazer bandeirinhas de papel, com as cores da escola, para serem agitadas durante a seleção. A moda pegou – conta o tricampeão, autor de Templo Negro em Tempo de Consciência Negra (1989) e Sou Amigo do Rei (1990).
Com a derrota em 1991, Alaor deixou a escola. Passou a frequentar e fazer samba para o bloco Boêmios de Irajá. No ano seguinte, seguiu para os Estados Unidos para participar de um evento e acaba fundando sua própria escola para exibições em eventos. Lá, gravou seu terceiro CD e casou-se com a atual companheira, Gail O’ Gorman.

Em uma de suas vindas para o Brasil para arregimentar instrumentistas e visitar a filha única, no Rio, resolveu desviar o rumo para Salvador, onde não encontrou vestígios das escolas de samba. Seus planos mudaram. Ele fundou a Lira Imperial e começou a trabalhar para restituir a alegria de antigos bambas e formar nova geração de sambistas, seguindo ao pé da letra o que prometeu em Fruto da Raiz, gravado em 1997: “Vou levantar a bandeira do samba / Eu vou cantar e sambar / Porque o samba não pode acabar”.

O que falam sobre Alaor e seu projeto

Jaime Sodré (foto), professor universitário, especialista em História da Cultura Negra e Xicarongoma (sacerdote músico) Ogan (nome genérico para atividades masculina) do Candomblé – “As escolas de samba emprestavam auto-estima para quem desfilava e eram fator importante de mobilização para negros e negras. Elas evocam questões interessantes: a paixão dos torcedores, a qualidade das letras e das melodias e o cuidado na elaboração das indumentárias. A proposta de Alaor precisa ser bem analisada para que não se dê um tiro no pé. Em vez de se recriar os desfiles com várias agremiações, com risco de não ter cobertura da mídia, talvez fosse melhor investir numa única escola para se exibir no Campo Grande”.

Vadinho França, presidente do bloco de samba Alvorada, o mais antigo da Bahia – “Alaor fez o mesmo caminho que Tia Ciata e voltou para lutar pelo samba. Ele é um bom compositor, tem experiência e uma grande virtude: faz tudo com paciência. Seu projeto de revitalizar os desfiles das escolas de samba merece atenção. O carnaval da Bahia tem lugar para todo mundo”.

Mazé, diretora do Centro Cultural Nélson Rufino, professora de artes e cantora – “Ele tem condições de dar o pontapé inicial do processo de recuperação das escolas, que fazem falta no carnaval. É o sonho da vida dele que está dando esperança para os outros”.

João Barroso, ex-presidente da Juventude do Garcia – “Os planos de Alaor não são impossíveis. Reconheço a boa vontade e intenção dele. E como pessoa dedicada ao samba, não posso deixar de estar a favor. A volta das escolas proporcionaria mais diversidade ao carnaval baiano, mas é preciso discutir de que forma isso ocorrerá. Seria mais fácil retornar com as antigas escolas ou criar novas? Qual a estrutura necessária para isso? Como despertar o apoio da iniciativa privada? Outra questão importante: a juventude baiana não tem cultura de escola de samba. Seria necessário implantá-la, quem sabe com a ajuda das secretarias de educação. Por fim, os governos municipal e estadual precisam mostrar interesse efetivo, em vez de só acenar com promessas.

Nelson Rufino, cantor, compositor e presidente do bloco de samba Amor e Paixão – “As escolas fizeram parte de uma época em que transformamos a paixão pelas escolas de samba do Rio em um movimento digno, que revelou grandes compositores e artistas. Acho que para voltarem é preciso catequisar os jovens baianos, que encaram as escolas como uma grande cultura carioca. Acredito que seria mais fácil investir numa única escola, a superseleção do samba , com alas formadas por remanescentes das antigas agremiações. Também investiria nos concursos de samba-enredo, que poderiam culminar na fusão de dois ou três composições num único samba-enredo a ser apresentado na avenida. Desse movimento, eu participaria”

Apogeu e declínio das agremiações

As escolas de samba de Salvador se originaram das antigas batucadas (desfiles em fila indiana) e charangas. Elas tiveram um período áureo, entre os anos 60 e 70, em parte graças aos marinheiros e fuzileiros navais baianos que serviram no Rio e trouxeram para cá as técnicas e truques usados nas escolas cariocas. Os desfiles eram realizados entre o Campo Grande e a Praça da Sé ou a Praça Municipal, onde era instalado um palanque para elas se apresentarem para os jurados. A falta de estrutura das agremiações, o advento do trio elétrico, com som mais potente, e a decisão do presidente da Diplomata de Amaralina, João Pinheiro do Amaral, de pagar para tirar os melhores componentes das adversárias, são apontados pelos especialistas como os principais fatores do declínio.

Em sua fase áurea, existiam 14 escolas, divididas em dois grupos. Nenhum dos entrevistados consegue lembrar o nome de todas, ainda mais que os poucos registros existentes estão espalhados e pouco preservados – parte deles está na Lira do Samba, aguardando finalização de catalogação feita por alunos da Faculdade Social. Eis a relação das principais agremiações da época e as suas cores originais, segundo Alaor Macedo e seus parceiros.